A rainha Charlotte, há rebolado na corte Britânica
Updated: Mar 17, 2021
DESTAQUES DE LUXO DO CARNAVAL CARIOCA

Para esta fantasia Nelcimar Pires procurou inspiração no vestuário da rainha Charlotte de Mecklenburg-Strelitz, quem casou em 1761 com o Rei George III de Inglaterra, lembrado como o monarca maluco.
Charlotte era parente de uma membro da monarquia Portuguesa que tinha descendência africana, além de ser segundo registros da época, amante da musica e da dança. Nelcimar, leitor incansável de livros sobre monarquias e estudante da diáspora africana vinculou estes atributos com rebolado, carnaval, negritude, e decidiu homenagear a rainha com esta fantasia. Ele ainda disse para estupor da audiência que o eletrizante rebolado africano da rainha provocou a loucura do George III.
No traje, os numerosos detalhes em azul intenso, com cristais de lazuritas lapidadas, bordados e pedras certamente referem ao sangue nobre. A primeira coroa com pontas magnificamente bordadas que erguem para cima e para baixo remetem a corte Britânica. A segunda coroa é uma clara referência a virgem de Fátima. Foi construída com meticulosos detalhes florais pela equipe de costureiras crentes do ateliê.
O figurino parece uma jóia gigante de estrita simetria. Destaca se uma adaptação da típica Mântua da corte do século XVIII com estrutura de arame interna que da largura a anágua. Esta versão é aberta na frente permitindo ver as calças de acabamento canhão, as meias pontilhadas de pequenos cristais, e as botas ornamentadas. O aplique triangular no centro do traje é em si uma obra de arte. A fantasia tem mangas de babados removíveis, e luvas embelezadas com pingentes e paetês.
O produto final mais do que justifica a intenção de simbolizar com uma fantasia de alta-costura carnavalesca o luxo da corte Britânica no século XVIII . A plumagem atrás da coroa representa um girassol, insinuando o toque descontraído, tropical e Brasileiro. Houve esmero na curadoria do material. Abundam pedras da Áustria, Africa e indonésia, incluindo cinqüenta cristais de safira da Malásia de 5 cm diâmetro, e um colar de mil pérolas. No entanto o verdadeiro valor da peça está na impecável confecção e na investigação histórica. São evidentes aos olhos treinados de quem assina, os 30 anos de alta costura do artista.
Nelcimar exibia a fantasia teatralmente nas dunas de Atafona naquela diáfana manhã. Como se fosse o Garrick, o grande ator Inglês do século XVIII. Assim, como um girassol se rende ante o sol, quem observa faz o mesmo frente ao luminoso preciosismo que irradia a peça.
Barão de Saba
(pequenas liberdades carnavalescas permitidas)